Por: André Luiz
O doente acariciava-lhe as mãos e respondia com imenso afeto, apesar da forte dispneia.
Roguei ao Senhor energias necessárias para manter a compreensão imprescindível e passei a interpretar os cônjuges como se fossem meus irmãos. Reconheci que Zélia e Ernesto se amavam intensamente. E, se de fato me sentia companheiro fraternal de ambos, devia auxiliá-los com os recursos ao meu alcance. Iniciei o trabalho procurando esclarecer os Espíritos infelizes que se mantinham em estreita ligação com o enfermo. Minhas dificuldades, porém, eram enormes. Sentia-me abatidíssimo.
Nessa emergência, lembrei certa lição de Tobias, quando me dissera: “aqui, em Nosso Lar' nem todos necessitam do aeróbus para se locomoverem, porque os habitantes mais elevados da colônia dispõem do poder de volitação; e nem todos precisam de aparelhos de comunicação para conversar a distância, por se manterem, entre si, num plano de perfeita sintonia de pensamentos. Os que se encontrem afinados desse modo, podem dispor, à vontade, do processo de conversação mental, apesar da distância”.
Lembrei quanto me seria útil a colaboração de Narcisa e experimentei. Concentrei-me em fervorosa oração ao Pai e, nas vibrações da prece, dirigi-me a Narcisa encarecendo socorro. Contava-lhe, em pensamento, minha experiência dolorosa, comunicava-lhe meus propósitos de auxílio e insistia para que me não desamparasse.
Aconteceu, então, o que não poderia esperar. Passados vinte minutos, mais ou menos, quando ainda não havia retirado a mente da rogativa, alguém me tocou de leve no ombro. Era Narcisa que atendia, sorrindo:
– Ouvi seu apelo, meu amigo, e vim ao seu encontro.
Não cabia em mim de contentamento. A mensageira do bem fixou o quadro, compreendeu a gravidade do momento e acrescentou:
– Não temos tempo a perder.
Antes de tudo, aplicou passes de reconforto ao doente, isolando-o das formas escuras, que se afastaram como por encanto. Em seguida, convidou-me com decisão:
– Vamos à Natureza.
Acompanhei-a sem hesitação e ela, notando-me a estranheza, acentuou:
– Não só o homem pode receber fluidos e emiti-los. As forças naturais fazem o mesmo, nos reinos diversos em que se subdividem. Para o caso do nosso enfermo, precisamos das árvores. Elas nos auxiliarão eficazmente.
Admirado da lição nova, seguia, silencioso. Chegados a local onde se alinhavam enormes frondes, Narcisa chamou alguém, com expressões que eu não podia compreender. Daí a momentos, oito entidades espirituais atendiam-lhe ao apelo. Imensamente surpreendido, via indagar da existência de mangueiras e eucaliptos. Devidamente informada pelos amigos, que me eram totalmente estranhos, a enfermeira explicou:
– São servidores comuns do reino vegetal, os irmãos que nos atenderam.
E, à vista da minha surpresa, rematou:
– Como vê, nada existe de inútil na Casa de Nosso Pai. Em toda parte, se há quem necessite aprender, há quem ensine; e onde aparece a dificuldade, surge a Providência. O único desventurado, na obra divina, é o Espírito imprevidente, que se condenou às trevas da maldade.
Narcisa manipulou, em poucos instantes, certa substância com as emanações do eucalipto e da mangueira e, durante toda a noite, aplicamos o remédio ao enfermo, através da respiração comum e da absorção pelos poros.
O enfermo experimentou melhoras sensíveis. Pela manhã, cedo, o médico observou, extremamente surpreendido:
– Verificou-se esta noite extraordinária reação! Verdadeiro milagre da Natureza!
XAVIER, Francisco Cândido – Espírito: André Luiz – Nosso Lar, pg 167, 168 - 1ª edição - FEB
Comments