Por: Fernanda Oliveira
“A geração que surge, imbuída das ideias novas, estará em toda a sua força e preparará o caminho da que há de inaugurar o triunfo definitivo da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença, pela prática da lei evangélica.”
Alan Kardec
Movimentos sociais são feitos por pessoas e nenhuma instituição no mundo é perfeita, podemos compreender como movimento espírita a interpretação que cada um faz das obras de Kardec. Segundo o Estatuto da Juventude (Lei 12.852/13), jovens são o grupo etário composto por pessoas entre 15 e 29 anos de idade.
Espiritismo é renovação, não é salvação, mas evolução, é estudo e pesquisa, é troca de experiências; é agir diariamente com consciência da necessidade de praticar o bem de forma ética e moral. O movimento espírita não deve ficar engessado e repleto de dogmas e crenças de outras religiões, não deve seguir padrões e valores herdados e enraizados de outras crenças; confundindo a doutrina espírita com moralismo, hierarquias, castigos e crendices. A Doutrina Espírita não é monopólio de uma instituição ou de um grupo de pessoas.
O espiritismo está sempre em permanente construção, o espírito evolui individualmente e esse progresso só se dá com o outro e em sociedade. A coletividade é um conjunto de todos e todos podem contribuir, todos podem acrescentar suas ideias e agregar valor. O movimento espírita precisa ser acessível para todos, a mudança social que queremos passa pela mudança cultural e começa dentro de nós.
Todos estamos interligados e o ser humano é naturalmente um ser social que necessita se relacionar e pertencer a um grupo. Quando os pais são espíritas geralmente costumam levar os filhos menores para evangelização infantil semeando assim os primeiros conceitos e contato com a doutrina espírita; onde seguem seus estudos com a evangelização da juventude ou mocidade. Depois do grupo da mocidade, alguns jovens não encontram incentivo para continuarem participando plenamente das atividades das casas espíritas e acabam se afastando e muitas vezes perdendo o contato com a doutrina espírita.
Na questão 385 de "O Livro dos Espíritos" Kardec questiona o que se opera no caráter do individuo em certa idade, especialmente ao sair da adolescência e é esclarecido que é a liberdade de expressar o que se é que faz a alma ficar mais consciente do seu estado espiritual e passando a ser o que realmente é. A questão elucida a importância do conhecimento espírita na construção de valores éticos e morais e estrutura emocional.
Nada permanece fixo o tempo passa e transforma cada coisa e cada ser e com essas transformações as necessidades das pessoas estão se alterando, a linguagem e conceitos do passado não são os mesmos da atualidade e cada vez mais é preciso redesenhar a forma de viver, conviver, ressignificando temas e termos. Nem sempre com a idade vem a maturidade, e nem sempre os mais velhos são os mais sábios. Opiniões diferentes são na verdade diferentes saberes... que podem ser compartilhados. A beleza de conviver é aprender e poder dividir conhecimentos.
Não é possível ficarmos imobilizados nos modelos anteriores de exigências e estrutura para a atuação efetiva do jovem na seara espírita. Muitas casas espíritas ainda exigem inúmeros cursos e enxergam os jovens como imaturos e não preparados para atuarem efetivamente. Os jovens precisam se sentirem integrados para terem entusiasmo em estudar e aplicar o espiritismo como um guia. Devem participar das reuniões publicas, do atendimento fraterno, do passe, das reuniões mediúnicas, podem e devem organizar eventos, campanha de arrecadação de alimentos; auxiliarem na organização da biblioteca, de seminários, da agenda da casa espírita promovendo a Doutrina Espírita.
Os jovens devem canalizar a energia e criatividade para o estudo de temas que fazem parte do seu universo e das suas curiosidades como: profissões e carreiras, relacionamentos, orientação sexual, identidade de gênero, tecnologia, redes sociais, racismo, drogas e bebidas alcoólicas, ansiedade, família, lazer; entre outros – todos focados e alinhados com a doutrina espírita. A cada novo aprendizado criamos redes neurais dentro do nosso cérebro.
Os mais velhos no movimento espírita e dirigentes podem conduzir e repensar as formas de estudo e aprendizado da Doutrina Espírita, transferindo a sua vivência, encorajando a autonomia, a liberdade de pensamento, promovendo a diversidade e o protagonismo jovem no movimento espírita. A busca dos conhecimentos é ponte para as mudanças de atitudes e para transformação da realidade social.
Os jovens inseridos no movimento poderão compartilhar saberes e expertises com comprometimento e disciplina com um outro olhar promovendo atividades atrativas e acolhedoras com música, filmes, livros, tecnologia, buscando integrar novos jovens.
Não podemos esquecer que Kardec teve a participação ativa e auxilio de jovens médiuns, dos feitos de Joana D´Arc. Tão jovem nas Guerra dos Cem Anos, das irmãs Fox, que Chico Xavier escreveu seu primeiro livro espírita com 22 anos, que Divaldo Pereira Franco fundou a Mansão do Caminho com 25 anos. Todos jovens contribuindo para a doutrina e o movimento espírita.
O conhecimento espírita traz a consciência de quem somos e do que estamos fazendo na Terra, somos resultado de todas as experiências que vivemos na vida e é essencial aceitar que existem perspectivas diferentes e podemos repensar conceitos e construir pontes.
Vamos caminhando em busca de uma sociedade mais justa, fraterna e ética com a colaboração de todos.
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Referências:
Artigo: O espiritismo é livre. Rafaela Paes de Campos. Blog Letra espírita.
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Editora EME
Revista Espírita ( 1863 ) – Allan Kardec- Editora FEB
O Grande Enigma - Léon Denis – Editora FEB
Pedagogia Espirita – Herculano Pires – Editora Paidéia
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