Por Denise Pereira Rebello
Sublime e libertadora passagem entre Jesus e uma mulher adúltera nos é relatada no Evangelho de João. Vale-nos a reflexão e um olhar para nós mesmos.
Escribas e fariseus trouxeram ao Mestre uma mulher que fora apanhada em adultério e questionaram-no sobre apedrejá-la segundo a Lei de Moisés: “Qual é a vossa opinião sobre isto? Diziam pois os judeus, tentando-o, para o poderem acusar. Jesus, porém, abaixando-se, pôs-se a escrever com o dedo na terra. E como eles perseveraram em fazer-lhes perguntas, ergueu-se Jesus e disse-lhes: aquele dentre vós que estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra. E tornando a abaixar-se, escrevia na terra. Mas eles, ouvindo-o, foram saindo um a um, sendo os mais velhos os primeiros. (…) Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Respondeu ela: ninguém, Senhor. Então Jesus lhe disse: Nem eu tampouco te condenarei; vai, e não peques mais”.
E lá se vão séculos da vinda de Jesus à Terra. Espírito luminar, o Cristo de Deus se fez forte para os fortes e fraco para os fracos, a fim de salvar a humanidade e fazer conhecida a vontade do Pai. O Mestre, acima de tudo, ensinou-nos que o Amor é o caminho. Entretanto os julgamentos, referimo-nos aqui aos pessoais, ainda que com força coletiva, ainda encontram espaço no íntimo das criaturas e nas relações humanas, por vezes embaçados pelo verniz social, por outras, expressos explicitamente; mas, aqui e além, encontramos pedras e acusações.
A situação da mulher levada a Jesus pela multidão refere-se ao impulso do homem para enxergar o mal em outrem, sem vê-lo em si mesmo. Ao dizer que aquele que estivesse sem pecado atirasse a primeira pedra, Jesus desvela a cada um os seus erros, sendo os mais velhos os primeiros a se retirarem, portanto com mais pecados. A cada um foi dada a orientação: aqueles que acusavam deveriam reconhecer seus erros sem julgar o próximo, e a mulher, que, tendo caído em adultério, deveria modificar sua conduta.
O silêncio que se fez diante à ordem do Mestre revela o reconhecimento de cada um ao analisar-se também em falhas. Ao lado da mulher adúltera estavam os homens igualmente pecadores e que traziam o conceito errôneo do adultério unilateral. Seria ela a única responsável? Afirma Emmanuel, em psicografia de Chico Xavier, que o homem e a mulher aparecem no mundo com tarefas específicas que se integram, todavia, com os mesmos propósitos de evolução espiritual. Nas experiências inferiores, um não cai sem o outro, pois a ambos foi concedida a oportunidade de santificar. Se as faltas das mulheres ganham destaque no caminho social, é que os adúlteros continuam ausentes da hora do juízo, assim como ocorrera à época de Jesus.
Ao final, a afirmação amorosa de Jesus “Nem eu tampouco te condenarei; vai, e não peques mais” representa a libertação revestida de reponsabilidade.
Assim, nas experiências da existência, procuremos a luz do Evangelho de Jesus para discernir o erro da verdade, o bem do mal e nos redimirmos em seu amor, lembrando Pedro, o Apóstolo: “O amor cobre a multidão dos vossos pecados”.
Publicado originalmente:
https://acasadocaminho.org.br/artigos_publicacoes/o-amor-e-a-multidao-dos-nossos-pecados
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