Por: Aryanne Karine
Inegavelmente Jesus passou por este orbe para amar, se dispôs a assumir esta densa matéria que permeia nosso espírito para fazer valer as lições já contidas nas Escrituras do antigo testamento que eram estudadas e por vezes, erroneamente colocadas em prática, sendo passíveis de diferentes interpretações, assim como também ocorre na atualidade, de nossa limitada consciência terrena. Jesus veio como um revolucionário, não para mudar as leis já impostas por Moisés, dentre outros, mas para fazê-las valer, e da maneira correta.
Jesus quando designado a função de nosso guia e modelo espiritual, já havia alcançado o nível de maior perfeição oferecido por Deus para a humanidade (1), concentrando as experiências morais e intelectuais necessárias para tal auxiliar em nossa evolução, pois somente um espírito de uma esfera superior como ele, arriscar-se-ia a ser o detentor da responsabilidade por incontáveis espíritos em um nível de evolução ainda tão inferior. É justamente por isso, que temos a necessidade e o dever de compreender o quão longe ainda estamos de Cristo, que mesmo com toda a sua superioridade espiritual, se fez pequeno por nós, sofrendo as dores e os tormentos somente para nos ensinar o que até hoje, não damos o devido e merecido valor, o amor.
Ainda não temos o entendimento necessário para absorver todas as causas e significados das Leis Divinas, leis essas que Cristo veio para cumpri-las e orientar-nos no mesmo caminho, mas para conseguir elucidar a grandeza de nosso Mestre e Governador, bem como de sua missão. E isto é algo que percebemos não somente em seu evangelho, como no quanto a doutrina espírita tem a nos esclarecer sobre este e muitos outros aspectos.
Allan Kardec, o espírito que organizou e publicou as obras básicas do consolador prometido por Jesus, o espiritismo, afirmou com convicção que a caridade é o ensinamento mais importante que devemos levar em consideração quando diz “Fora da caridade não há salvação” (2), pois dela provém nossas possibilidades de sanar débitos oriundos de outras experiências, a fim de esses passos no bem, serem luz pelo nosso caminhar em nosso percurso evolutivo.
Em cada passo de Jesus, Ele demonstrou em todas as suas ações inúmeras lições sobre como transpor a prática a essência do amor. Pois o amor que Cristo veio para nos ensinar é apenas um sentimento, do qual a forma de o transpor a prática é através da caridade, palavra essa que não se resume apenas em doar algo de material a quem necessite, mas abrange conceitos bem maiores, desde a caridade moral para conosco mesmo, em nossa mudança intima, deixando nossas tendências e mazelas para trás, até a caridade moral para com o próximo, no auxilio com uma palavra, um ombro amigo.
As caridades de Jesus podem inclusive ser seguidas de uma forma cronológica, onde em cada escolha, extraímos lições preciosíssimas, como na sua primeira lição, da manjedoura, onde Ele, ser mais iluminado deste orbe, nos mostrou que de uma manjedoura, nasceu o homem que revolucionaria a vida de todos viventes nessa terra, pois, sejam cristãos ou descrentes, mais de dois mil anos se passaram, e todos ainda recordam-se de seu nome, nos quatro cantos do planeta, sua história, ainda que de forma superficial, é conhecida e retratada de diversas formas nas pluralidades culturais distintas.
A Manjedoura foi o início calculado de suas ações de benevolência para a humanidade, onde ele nos mostrou que o mais humilde dos homens é capaz de grandiosos feitos, e esse foi o legado de seu nascimento, pois por vezes, deixamo-nos conter a evolução a espera de melhores condições de vida, para daí sim sermos mais bondosos com o nosso próximo, aplicando de forma externa as desculpas para não nos responsabilizarmos por nosso livre arbítrio, que permite-nos seguir em direção a perfeição, ou manter-nos estagnados perante nossa evolução.
E este é o ponto de sua primeira mensagem do seu legado, do qual, nem sempre paramos para refletir. Porém, Jesus escolheu a forma mais humilde de nascer, para provar para o mundo que o pequeno pode se fazer grande. Deixou a mensagem de que, não importa o estágio inicial de nossa jornada, somos capazes de modificar o nosso mundo interior e consequentemente o mundo externo, mesmo que as circunstâncias se mostrem contrárias. O fato de que o homem mais elevado que temos de exemplo em nosso orbe terrestre ter designado o seu próprio nascimento de uma forma tão simplista nos evidencia que independentemente de qualquer posição social, todos somos suscetíveis à prática do bem em qualquer instancia. Porém seus atos vão muito além deste primeiro exemplo. De cada passagem de suas vicissitudes podemos extrair valiosíssimas lições que nos exemplificam como transpor para a real prática o amor do qual ele tanto falara. Como seu empenho em mudar a cultura existente na época, em que mulheres eram vistas apenas como pessoas a servir os homens, onde nem mesmo à mesa sentavam com os maridos ou filhos para comer, pois não eram dignas, onde não tinham permissão de ter a palavra sem que seus parceiros a permitissem. Onde, além de sentar-se e conversar com uma mulher no poço de Jacó, ainda escolhera para tentar expurgar os preconceitos regionais, pois de todas as mulheres que ele poderia escolher para mostrar aos seus que não há distinção entre os sexos, ainda assim, escolheu uma mulher de Samaria, região essa que os judeus não adentravam por achar o povo inferior e menospreza-los.
E a passagem da mulher Samaritana, ainda muito nos fala sobre a água viva que ele viera a oferece-la, sobre a insaciável sede material que possuímos, seja com os bens tão desejados por nós, seja com a própria sede física, da qual necessitamos mais e mais beber para subsistência de nosso corpo. E ali Cristo nos mostra que quanto mais bebermos, mais sede teremos, isso vale para o nosso corpo físico, como também para nossos anseios da alma, pois quantos de nós não nos vemos presos em um ciclo de desejos materiais dos quais ao conquistar ainda não nos sacia a vontade de querer mais? Jesus vem nos oferecer seu Evangelho, fonte de água viva que perdurará em nossos corações não só por essa existência corpórea atual, mas também pela nossa eternidade seja como espírito, ou em outras encarnações neste orbe ou em qualquer outro, pois tudo que aprendemos de cunho espiritual é somente o que levaremos desta experiência momentânea que chamamos de vida.
Poderíamos nós, discursar ainda por inúmeras outras passagens de Cristo onde Ele nos exemplifica suas lições de amor, como sua renúncia no calvário, sua resiliência ao suportar a dor da carne no suplício do qual destinara o fim de sua jornada, pois apesar de Jesus ser o maior entre nós, esteve encarnado em um corpo como o nosso, sentindo todas as dores, mas superando-as, pois, sabia o que isto significaria para a humanidade por todos os séculos que viriam.
Cristo em suas passagens eternizadas nos evangelhos do novo testamento, nos mostra que para compreendermos a profundidade do amor, esse do qual ele sente por todos nós, necessitamos passar por um processo de aprender a sermos humildes, modificar nossas mazelas como o egoísmo, a vaidade, abrir nossos olhos para os irmãos necessitados, ir contra a normalidade que as paixões e tentações térreas nos oferecem, resignar de nós mesmos, carregar a nossa cruz e assumir nossa responsabilidade para conosco e nossas faltas, e assim, por consequência, auxiliar o próximo.
Antes de nos modificarmos e compreendermos o real sentido do que é amor, jamais levaremos a bandeira da caridade como Cristo assim o fez, pois sem entendermos a necessidade de nos aproximar dia após dia de sua superioridade, não será com a intenção que Ele fizera. Jesus apequenou-se em diversos momentos retratados no seu evangelho, como quando em um ato de humildade lavou os pés dos seus discípulos, sendo essa prática feita em visitas normalmente pelas mulheres da casa, pois ele quis demonstrar que o maior se faz pequeno em um ato de bondade.
A caridade da qual praticamos hoje, tem a tendência de ser de cima para baixo, onde nós, em nossa suposta grandeza nos compadecemos de nosso irmão maior, e em cima de nosso pedestal de superioridade os auxiliamos, mas o convite de Cristo em todas as suas ações era de diminuirmos para adentrar o coração daqueles que de nós precisam, e compreender, que a caridade nunca é um ato de cima para baixo, onde bem pelo contrário, os que entendem e praticam as lições dispostas em seu evangelho, sabem que ao se doar, mais ganha aquele que oferece do que o que recebe.
O Evangelho de Cristo está repleto de lições para que aprendamos a amar, basta que ao invés de vê-las, passemos a enxergá-las. Que sigamos nessa caminhada em busca da compreensão desse sentimento divino para com o coração fervoroso de amor, auxiliar na caminhada de nossos irmãos, enquanto estamos iluminando nossos próprios passos.
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Referências:
1- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos / Allan Kardec, [coordenação] Claudio Damasceno Ferreira Junior. – Porto Alegre: BesouroBox, 2013. Pg 300 – Questão 625
2- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. Catanduva: Boa Nova Editora, 2004. Capítulo 15, item 8, p. 196.
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