Por: Nandra Laura
Uma das curiosidades naturais é o que existe após a morte física, ou seja, para onde a alma vai depois que o corpo é sepultado. A outra curiosidade é como se dá o instante da morte. Como é o último suspiro? Essa partida é dolorosa?
Vamos buscar a resposta em uma das obras do Pentateuco Espírita: O Livro dos Espíritos. Trata-se de uma obra sistematizada e este artigo abordará a Parte Segunda – Do Mundo Espírita ou Mundo dos Espíritos - Capítulo 3 cujo título é “Da volta do espírito, Extinta a vida corpórea, À vida espiritual”.
Nesta obra utiliza-se o termo desprendimento. Segundo o Dicionário On-Line de Português, desprendimento é “ação ou efeito de desprender ou desprender-se. Comportamento ou característica de abnegado; qualidade da pessoa que não tem interesse por dinheiro; altruísmo ou desapego”.
É salutar trazer a definição desta palavra porque as características como abnegação e desapego fazem muito sentido para a Doutrina Espírita no instante em que se opera a separação da alma e do corpo.
A questão 156 de O Livro dos Espíritos (KARDEC, 2022, p. 98) revela:
“A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?
Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.”
Faz-se necessário resgatar em nossas mentes a tríade corpo, perispírito e espírito. O perispírito é um nome estranho aos irmãos de outras religiões, mas para os Espíritas, ele é o envoltório semimaterial do Espírito. (KARDEC, 2022, p. 98)
O desprendimento do perispírito do corpo é feito de forma gradual e segundo O Livro dos Espíritos, sua lentidão é de forma variável dependendo dos indivíduos.
A palavra “depende” gera ansiedade acerca do tema, porém é plausível nesta resposta. A dependência reside em virtude do estilo de vida que o indivíduo viveu. Quanto mais materialista, mas difícil o desapego da matéria, ou seja, do corpo físico.
Isso quer dizer que é levado em consideração a vida espiritual do indivíduo antes do seu desencarne. Para aqueles que cultivam a sua espiritualidade, buscando conectar-se com Deus e confiando que não só de pão o ser humano viverá, ali reside uma esperança de que a vida é só uma passagem, independente de religião.
José Naufel (2022, p. 197) oferece mais detalhes sobre o desprendimento:
Com a ocorrência da morte, a referida ligação é desfeita: imediatamente quando se trata de pessoa altamente espiritualizada; de forma mais lenta, variando, normalmente, até 72 horas, ou três dias, quando a espiritualização é menor ou bem apoucada; bem mais demoradamente e por período indeterminado, se o indivíduo é muito apegado à matéria e aos interesses e sensações da vida material e extraordinariamente retardada, muitas vezes, por anos a frio, quando a morte decorre de suicídio.
Logo, pode-se dizer que o desprendimento do perispírito tem correlação com o estilo de vida do indivíduo. Infelizmente, há aqueles que sofrem de procrastinação espiritual. Deixam para depois sua vida religiosa ou o serviço a Deus. O ser humano é mestre em criar desculpas.
“Quando chegar a aposentadoria, vou me dedicar à casa Espírita. Quando eu tiver tempo, farei um trabalho voluntário. Quando os filhos crescerem, aí terei tempo para fazer caridade”. Infelizmente para alguns, esse tempo não chega e é abreviado pela partida ao Plano Espiritual.
Tais perturbações no momento do desprendimento podem acontecer em virtude dos vícios também. Seja pelo álcool, tabagismo, drogas ou aqueles que ainda não conseguem entender a extensão de suas gravidades.
Ouso escrever que não ocorre de forma abrupta o desprendimento em face do amor de Deus por nós. Que Pai bondoso permitiria nos minutos derradeiros no plano terrestre uma violência no corpo material do Filho? Corpo esse que é sua obra, parte da sua criação? Não, não somos brinquedos que se montam e desmontam como peças de um lego.
O ser humano tem medo da dor, isso é natural porque temos um mecanismo de defesa. Dor é desconfortável. Não bastam as dores do corpo, sejam as que experimentamos na vida, como dor de dente, enxaqueca ou uma fratura. Quiçá a dor em virtude de uma doença e tratamentos mais invasivos como quimioterapia.
Diante das dores físicas surge a dúvida se morrer dói. O poeta brasileiro, Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza nos legou essa frase: “Morrer não dói, viver sim”.
A interpretação pode ser em virtude de sua luta contra o vírus HIV, entretanto, aprofundo-me. Viver dói porque existe o movimento, o corre diário e os boletos a serem pagos. Morrer é tomar o trem de volta à Pátria Espiritual.
Esse medo da dor reside na falta de conhecimento e da confiança na Lei Natural do nosso Criador. No começo do artigo foram mencionadas duas palavras para que fossem resgatadas nesse momento: abnegação e desapego.
Abnegação é ação de abnegar, de desistir de alguma coisa; renúncia. Ao passo que desapego é que não demonstra interesse; particularidade da pessoa que expressa indiferença; desprendimento (Dicionário On-Line de Português, 2024). Essas palavras são sinônimas, mas cada um traz a sua singularidade.
Impossível deixar de recordar os ensinamentos bíblicos que ecoam no nosso “DNA” espiritual e um deles está no Novo Testamento em Primeiro Timóteo capítulo 6 versículo 7: Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. (BÍBLIA, 2024)
Logo, Nosso Mestre Jesus durante sua passagem na Terra foi deixando lições sobre como o apego e abnegação se tornam pedras de tropeço na jornada espiritual. O Evangelho de Mateus traz uma outra pérola para nossa existência quando menciona que devemos primeiro buscar o Reino de Deus e sua Justiça e todas essas coisas vos serão acrescentadas. (BÍBLIA, 2024).
O desapego ou a abnegação necessitam fazer parte da nossa Reforma Íntima. O autoconhecimento tira o ser humano da lama do materialismo e nos aproxima de Deus. Sigamos as pegadas de Jesus, nosso Irmão Maior, que em cada convite feito aos seus apóstolos era de largar tudo para segui-lo.
Nenhum deles se arrependeu. Tomemos posse da paz que o Mestre nos legou com o fim de abandonar dia após dia tudo o que nos faz sermos apegados à matéria. Cultivemos o jardim da Vida Espiritual não por medo da morte, mas por amor ao nosso Pai Celestial.
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Referências:
1- Bíblia, https://www.bibliaonline.com.br/acf/1tm/6/7-10, acessado em 24 de fevereiro de 2024 às 17:35.
2- Dicionário On-Line de Português https://www.dicio.com.br/desprendimento/, acessado em 24 de fevereiro de 2024 às 13:48.
3- ___ https://www.dicio.com.br/desprendimento/, acessado em 24 de fevereiro de 2024 às 13:48.
4- ___ https://www.dicio.com.br/desapego/ acessado em 24 de fevereiro de 202às 15:18
___ https://www.dicio.com.br/abnegacao/ acessado em 24 de fevereiro de 202 às 15:19
5- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: filosofia espiritualista / recebidos e coordenados por Allan Kardec; – [tradução Guillon Ribeiro] – 1ª edição dez. 2022 – Campos dos Goytacazes-RJ: Editora Letra Espírita.
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