Perdão: uma lição cristã
- Letra Espírita
- 20 de mar.
- 4 min de leitura

Por: Guilherme Carvalho
Desde o momento em que migramos do método nômade para a formação e centralização das criaturas, nascimento das civilizações, temos entrado em conflito por território e poder. Refestela-se o homem em estar possuidor de objetos ou pessoas, e porque naturalmente ocorre um atrito de interesses, seja de qual ordem for, emergem as posições de vítima e algoz.
Prematuros em sua percepção de realidade, exercem os seres em evolução, todo o seu livre-arbítrio com concupiscência, contraindo, desta forma, débitos sem-fim aos quais, invariavelmente, defrontarão situações em que terão que lidar com seu lado psicoespiritual, adormecido pela imperfeição natural do processo ascensional das Entidades Espirituais.
Taciturnos são os homens de ontem assim como hoje, tementes a tudo, inclusive a si mesmos, perpetuam-se em estado neurótico afim de abstraírem-se do que é concreto, existente. Vivem nas ilusões mentais que tecem e procuram instintivamente manipular a realidade ao seu bel-prazer, por isso, creem-se na condição de concederem o perdão, não de serem perdoados.
O Espírito Camilo, operoso irmão que se manifesta principalmente através da mediunidade de José Raul Teixeira, no livro A Carta Magna da Paz, traça uma análise sobre o perdão em que conclui: “Se uma pessoa pune-se a si própria, quando se equivoca, achando enormes barreiras para entender-se, ajudar-se e renovar-se para a felicidade, com toda certeza será inábil para estender sentimentos de perdão ou mãos de apoio aos irmãos da estrada humana” (TEXEIRA, 2012, p. 92).
Ninguém pode dar aquilo que não possui, fato consumado e amplamente divulgado na atualidade. Em desalinho consigo, não há quem possa apaziguar o exterior, é também nestas cláusulas mal estudadas e estabelecidas que a saúde mental é deteriorada. Perdoar-se primeiro, portanto, torna-se dever imprescindível.
A amiga valorosa, Benfeitora, Amélia Rodrigues em seu livro Luz do Mundo, comenta acerca da Oração Dominical, onde Jesus legava ensinamentos valiosos a posteridade humana, como orar e principalmente um manual ético-moral, ela enumera: “Reconhecimento dos erros, equívocos e danos causados a si mesmo e ao próximo – perdoa-nos! -, ensejando reparação, através da oportunidade de refazer e recomeçar sem desânimo, superando-se e ajudando aos que nos são vítimas – como perdoamos aos que nos devem!” (FRANCO, 2022, p. 40).
Perdoar é um ato de verdadeira caridade, mais além, é ato de conexão com Deus, exercendo a Sua Vontade através da compreensão fraternal de criatura a criatura. Ouvindo e fazendo ressoar os ensinamentos sublimes do Cristo Jesus, que no momento culminante de sua morte, com voz dulcíssima deixa na multidão que somos nós hoje, o recado de altruísmo incomparável: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (DIAS, Lucas 23:34, p. 378).
Ele padeceu as mais rudes e dolorosas provações, morreu perdoando e amando, retornou três dias depois perdoando e amando. No entanto, era necessário voltar para os Altos Cimos de onde provinha, mas, na responsabilidade do auxílio que nos devota, seus emissários tomaram postos e marcharam para a mesma Via Crúcis, exemplificando amor e perdão.
O Poverello de Assis, nosso querido Francisco, êmulo fervoroso do Cristo, já carregando bagagem de vivências consideráveis, em sua oração diz: “Onde houver ofensa que eu leve o perdão”. Mantendo a postura de serviência da Vontade Divina, pede para ser objeto dela, para agregar na disposição evolutiva social do planeta. Ser diferente, perdoar e ser perdoado!
No que tange ao comportamento social da criatura, defrontamo-nos cada vez mais de forma crescente, com a violência, a intransigência, a irresponsabilidade, explodem bolhas de ódio, rancor, maldade, e com medo de um futuro premeditado por guerras infames e cruéis, rapidamente, concluímos: “Não há mais solução, tudo está perdido”. Egoístas levantamos hipóteses: “Agora é cada um por si”. De certa forma agimos como se andássemos em círculos, entretanto, nossa conjugação é espiral.
Retorna o homem e a mulher, a criança e o idoso da modernidade, aos desideratos arcaicos, primitivos, hoje assim como ontem. Este é o campo de visão de muitos estudiosos do comportamento humano, todavia, somos Espíritas!
O Espiritismo, trazendo o movimento do Cristianismo Redivivo, Jesus Descrucificado, oferta-nos um panorama mais amplo, e instrui novamente, como fez o Mestre, as ferramentas necessárias para ganharmos este embate que no cerne é contra nós mesmos.
Por isso, perdoar tem de sair do imaginável coletivo, da repetição mecanicista para os campos de ação correspondentes em sociedade humana, visto que, a família universal impera sobre os laços de sangue e tudo que é Criação de Deus tende para o Amor imanente e intraduzível. Por enquanto, façamos a parte que nos cabe, alterando as nossas paisagens sombrias, iluminando-nos, quiçá, servindo como verdadeiros êmulos do Cristo.
==========
Referências:
1. DIAS, Haroldo Dutra. O Novo Testamento. Brasília/DF: FEB - Federação Espírita Brasileira. 2021.
2. FRANCO, Divaldo Pereira. Luz do Mundo. 11. Ed. / Pelo Espírito Amélia Rodrigues [psicografado por] Divaldo Pereira Franco. Salvador: LEAL, 2022.
3. TEIXEIRA, José Raul. A Carta Magna da Paz / reflexões em torno dos ensinos de Francisco de Assis. 3. Ed. / Pelo Espírito Camilo [psicografado por] José Raul Texeira. Rio de Janeiro: Fráter, 2012.
Comments