Por: Carla Silvério
“...ele aure no que vê, no que ouve e nos conselhos que lhe são dados, ideias que reencontra, ao despertar...”
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVIII
A questão dos sonhos é, desde a antiguidade, de interesse universal e intensamente estudado por filósofos, psicanalistas, psicólogos, e grandes pensadores da humanidade.
Sonho lúcido é o termo que se refere à percepção consciente que temos de um determinado estado enquanto sonhamos uma experiência da qual temos uma recordação muito clara ("lúcida") e nítida, com controle sobre as ações praticadas nos sonhos e todo o desenvolver da narrativa vivenciada no conteúdo do sonho.
Sob o ponto de vista médico, a neurociência já atestou a veracidade dos sonhos lúcidos, enquanto fenômenos psicofísicos no campo da neurofisiologia dos sonhos, sendo resultantes da atividade cerebral humana quando em estado do chamado sono REM ou estado mais profundo do sono, classificando os sonhos lúcidos como fenômenos da “proctociência”. Stephen LaBerge, renomado pesquisador do assunto, definiu o sonho lúcido como "sonhando enquanto sabemos que estamos sonhando."
O mesmo entendimento é encontrado já nas obras de Aristóteles, posteriormente em Santo Agostinho e mais adiante em Tomás de Aquino.
A consciência sabe que tudo ali é um sonho. Mantém a capacidade de reflexão e senso crítico e, a partir dessa percepção, pode literalmente dirigir o seu próprio sonho criando e ampliando ou mesmo mudando totalmente a realidade projetada no mesmo.
No sonho lúcido, você deixa de ser um personagem inconsciente da narrativa experimentada e subitamente acorda nela com capacidade de raciocínio, memória e percepção da estrutura do sonho, pois sabe que está sonhando.
Nesses momentos, pode-se descobrir mais de si mesmo, de sua personalidade, medos e sentimentos profundos, que em situação diversa não seriam encaradas. Pode-se também encontrar soluções ou respostas para muitas das questões que quando consciente e desperto não encontraria, pois, guardados nos porões da alma.
Sob o ponto de vista da Doutrina Espírita, os sonhos de um modo geral (e aqui incluem-se os sonhos lúcidos), são resultado da atividade do Espírito no período em que se encontra desprendido do corpo material, quando se conecta com mais intensidade ao plano espiritual.
A Questão nº 401 de “O Livro dos Espíritos” esclarece que o espírito jamais está inativo. Assim, durante o repouso do corpo material, a alma se emancipa e tem a possibilidade de atuar no plano espiritual, em contato direto com outros espíritos. E não é só. Da Questão 400 a 418, ainda de “O Livro dos Espíritos”, os Espíritos Codificadores esclarecem que todos sonham, contudo nem todo aquele que sonha se recorda da experiência vivida durante o repouso do corpo material.
Os sonhos lúcidos são vistos sob essa perspectiva como sendo o presente dado aos homens pela Espiritualidade Elevada, de se recordarem das experiências vividas durante o sono, por serem úteis e/ou necessárias tais recordações.
Ensinam os Espíritos, ainda, no “O Evangelho Segundo o Espiritismo” que “o sono é o repouso do corpo, mas o Espírito não tem necessidade de repouso. Enquanto os sentidos estão entorpecidos, a alma se liberta em parte da matéria e goza de suas faculdades de Espírito”.
Ainda no “O Evangelho Segundo o Espiritismo” consta “o sono foi dado ao homem para a reparação das forças orgânicas e para reparação das forças morais. Enquanto o corpo recupera os elementos que perdeu pela atividade de vigília, o Espírito vai retemperar entre outros Espíritos”. Carlos Bernardo, em sua obra “A Visão Espírita do Sono e dos Sonhos” – Casa Editora O Clarim –, coloca que os sonhos lúcidos são por vezes pressentimentos do futuro ou entendimentos do passado, permitidos por Deus, ou ainda, a visão de algo que se passa em local diverso de onde o Espírito emancipado pelo sono do corpo físico se encontra e para onde este se transporta.
Durante o sono, ficamos com todas as potencialidades do Espírito de forma amplificada e latente, o que resulta por vezes, quando há autorização do plano espiritual superior, de se recordar toda a trajetória percorrida no sono, consciente de todos os momentos, de forma lúcida.
Sob o ponto de vista da Doutrina Espírita, os sonhos lúcidos muito se assemelham aos desdobramentos recordados.
Os sonhos lúcidos são, portanto, oportunidades de utilização das ferramentas psico-espirituais para o desenvolvimento de uma maior consciência astral, uma vez que conhece-se a si mesmo, nos seus mais profundos e íntimos rincões da alma, conectando-se como Eu interior e com o plano espiritual, encontrando as respostas para as questões de maior relevância para a própria consciência, bem como captando as lições necessárias à reforma íntima e aprimoramento moral.
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Referências:
BERNARDO, Carlos. A Visão Espírita do Sono e dos Sonhos. Casa Editora O Clarim. 3ª edição. 2018.
MEDREIS, Renata. Sonhos Lúcidos (artigo publicado para o blog www.vinhadeluz.wordpress.com). Acesso em 04/03/2020.
KARDEC. Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 358ª edição. Editora Instituto de Difusão Espírita – IDE. Araras-SP.1978.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª edição Comemorativa do Sesquicentenário (bolso). FEB. Brasília-DF. 2007.
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