Ah, a juventude! Época de sonhos, longos caminhos, incertezas e ansiedades. Mas já dizia Samuel Ullman que “a juventude não é uma época da vida, é um estado de espírito”. Por isso, há tantos “velhos” de alma jovem, e tantos jovens de alma “velha”. Envelhecer não significa que devamos perder a jovialidade, a vontade de viver e realizar. E além de tudo isso, Espíritas que somos, precisamos sempre nos lembrar que muitos dos que hoje são jovens, podem ter mais vidas pretéritas do que os mais velhos com que hoje se convive. O passado é uma incógnita.
E com isso, inicia-se o objetivo do artigo, qual seja o de colocar em pauta o pouco espaço e credibilidade que os jovens têm dentro do movimento espírita.
Um estudo feito por Nuno Emanuel, intitulado Juventude! Espírita?, demonstra que os fatores que levam à evasão dos jovens das Casas Espíritas são as “metodologias de estudo que não proporcionam reflexão, discussão e diálogo; programas desligados da realidade e da vivência dos jovens; falta de integração do jovem nas atividades do centro e do movimento espírita; desvalorização da sua contribuição e opinião por parte dos dirigentes e; falta de divulgação do grupo de jovens” (EMANUEL, 2011, on-line)
Aqui não se fala em uma mudança radical dentro das Casas Espíritas para que elas se moldem às necessidades apenas dos jovens. Fala-se, simplesmente, que há uma necessidade latente de adequação. E são mudanças tão sutis, que muito provavelmente nem doeriam!
As metodologias de estudo que não incitam ou permitem a discussão, reflexão e diálogo são um grande entrave. Primeiro porque, por exemplo, O Livro dos Espíritos foi escrito em 1857 e, sem dúvidas, muita coisa mudou de lá pra cá. ESPIRITISMO É FÉ RACIOCINADA, NÃO É ACREDITAR EM VERDADES PRONTAS. Isso não significa que Kardec, os Espíritos e o Livro estão errados, significa apenas que o tempo passou e muitas coisas mudaram. Discutir, refletir, dialogar, essas são as bases do estudo da Doutrina, e por que isso não ocorre dentro dos Centros Espíritas?
Há também a menção aos programas desligados da realidade e vivência dos jovens. Abre-se o parêntese mais uma vez: Não queremos incutir a ideia de uma mudança radical, mas de pelo menos um dia em que as atividades sejam pensadas de forma a prender a atenção do jovem e instigar sua curiosidade. Desenvolver estudos mais dinâmicos, com participação de todos através de debates sobre os temas tratados, por exemplo. Obviamente, jovens se entretêm de forma diversa dos mais velhos.
Ocorre também a falta de integração do jovem nas atividades do centro e do movimento espírita, mais uma vez, porque elas não são pensadas para ele, não são desenvolvidas de forma a chama-lo a participar de forma efetiva, o que nos leva a outro fator, ou seja, a desvalorização de sua contribuição e opinião por parte dos dirigentes. A opinião dos mais jovens é vista como menor em muitas Casas Espíritas, que quase sempre são dirigidas pelos integrantes mais antigos do Centro. Sendo assim, as decisões das “altas esferas” são tomadas sem levar em conta ideias e necessidades dos mais jovens, o que acaba por afastá-los da Casa por não se sentirem acolhidos.
Por fim, e brevemente, há também a falta de divulgação do grupo de jovens, isso quando ele existe!
Obviamente, em muitos casos o jovem é o único culpado de sua evasão. Muitos agem com falta de compromisso em relação à Doutrina, pois, ela “exige” demais pela Reforma Íntima. Muitos têm outras prioridades, como estudos, trabalho... Mas será que aquela uma hora em que se deixou de ir ao Centro foi mesmo usada para esses objetivos? Muitos jovens só entram “de cabeça” no Espiritismo pela dor, e isso pode levar algum tempo. Enquanto isso, o estudo e a disciplina são vistos em segundo plano. Há também sua parcela de culpa.
O artigo ora escrito não quer criticar, afrontar os mais tradicionais nem criar um desconforto entre jovens e mais velhos, quer apenas que reflitamos. Será que os jovens não podem contribuir de forma enriquecedora com a estrutura já existente nas Casas Espíritas? Por ser jovem, sem maturidade ou experiência (em tese), não pode ter uma ideia que dê certo? Fica para reflexão.
Para finalizar, segue um lembrete: Na ocasião da escrita de O Livro dos Espíritos, quatro médiuns tiveram papel de destaque, e aqui salienta-se essa informação por conta de suas idades: Julie Baudin de 15 anos, Caroline Baudin de 16 anos, Ruth Japhet de 20 anos e Aline Carlotti, também de 20 anos (OLIVEIRA, 2015, on-line). Julie e Caroline foram responsáveis pela psicografia de quase todas as questões publicadas na 1ª edição de O Livro dos Espíritos, em 1857. Ruth foi a que mais contribuiu, visto que possuía por volta de 50 cadernos com mensagens que psicografava durante a noite (FONSECA, 2017, on-line). Todas jovens, com um legado de extrema importância e beleza... Pensemos nisso adequando o contexto para os dias atuais.
REFERÊNCIAS
EMANUEL, Nuno. Juventude! Espírita? Disponível em: http://www.oconsolador.com.br/ano5/238/nuno_emanuel.html. Acesso em: 03 de agosto de 2020.
FONSECA, Artur. Os bastidores do Livro dos Espíritos. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/os-bastidores-do-livro-dos-espiritos/. Acesso em: 03 de agosto de 2020.
OLIVEIRA, Jorge Leite de. Os primeiros médiuns da codificação espírita e a iniciação espírita de Kardec. Disponível em: http://www.oconsolador.com.br/ano8/404/jorge_leite.html. Acesso em: 03 de agosto de 2020.
ULLMAN, Samuel. 20 mensagens para jovens que celebram as alegrias da juventude. Disponível em: https://www.belasmensagens.com.br/mensagens-para-jovens. Acesso em: 03 de agosto de 2020.
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