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O amor da família deve ser incondicional?


Por: Simara Lugon Cabral

“Ora, o povo se assentara em torno dele e lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te chamam. – Ele lhes respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?

E, perpassando o olhar pelos que estavam assentados ao seu derredor, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; – pois, todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

S. MARCOS, 3:20-21 e 31 a 35; – S. MATEUS, 12:46 a 50.


A família é uma instituição onde um grupo de pessoas se reúne e assume o compromisso de se auxiliarem mutuamente, aprendendo através da convivência uns com os outros a viver uma experiência em comunidade. Em­ma­nu­el, na obra “Vi­da e Se­xo”, psi­co­gra­fado por Chi­co Xa­vi­er, diz: “De to­das as as­so­cia­ções exis­ten­tes na Ter­ra – ex­ce­tu­an­do na­tu­ral­men­te a Hu­ma­ni­da­de – ne­nhu­ma tal­vez se­ja mais im­por­tan­te em sua fun­ção edu­ca­do­ra e re­ge­ne­ra­ti­va do que a cons­ti­tu­i­ção da fa­mí­lia.” Dentro de uma família, cada um tem o seu papel e a base familiar deve ser o amor e o respeito. Porém nem sempre o amor surge através dos laços de sangue e por essa razão, existem diferentes tipos de família, algumas nas quais a pessoa nasce e outras que são escolhidas ou atraídas através dos laços espirituais.


O questionamento de Jesus a respeito de quem é sua mãe e quem são seus irmãos indica um ensinamento dele acerca das diferenças entre o parentesco corporal e espiritual. No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec afirma: “Os laços do sangue não estabelecem necessariamente os laços entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque o Espírito existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho. Ele só lhe fornece um envoltório corporal, mas deve ajudar em seu desenvolvimento intelectual e moral, para fazê-lo progredir. Os Espíritos que encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, muito frequentemente são Espíritos simpáticos, unidos por relações anteriores, que se traduzem em sua afeição durante a vida terrestre. Mas pode também acontecer que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros, divididos por antipatias igualmente anteriores, que também se traduzem em seu antagonismo na Terra, servindo-lhes de provação. Os verdadeiros laços de família não são, pois, os de consanguinidade, mas os de simpatia e comunhão de pensamentos que unem os Espíritos antes, durante e depois de sua encarnação”. Por essa razão pode-se compreender o porquê de tantas desavenças, abusos e até mesmo assassinatos ocasionando verdadeiras tragédias dentro do núcleo familiar. Na maior parte das vezes isso ocorre porque aqueles espíritos que ali convivem já eram desafetos do passado que receberam a oportunidade de relacionar-se em família para que pudessem desenvolver novos laços afetivos. Contudo, nem sempre conseguem superar suas diferenças e algumas vezes terminam por adquirir novos comprometimentos que só poderão ser sanados através do amor.


Apenas o amor é capaz de reparar as dores e as diferenças que os espíritos trazem das suas existências pretéritas, porém isso não quer dizer que as pessoas devam se submeter às situações de violência seja ela física, psicológica ou qualquer outra forma de abuso apenas porque o agressor é um membro de sua família. Amar e perdoar é preciso contudo quando se convive com um familiar agressivo é preciso lembrar-se do segundo mandamento mais importante segundo o Mestre Jesus: “Ame o próximo como a si mesmo”, ou seja, é preciso se amar e se respeitar e isso significa não se sujeitar a nenhuma situação onde o seu corpo seja violentado ou abusado ou a sua forma de viver seja discriminada ou desrespeitada. Quando os laços afetivos são rompidos pela violência, é necessário lembrar-se do amor próprio visto que ao invés de reparar os erros do passado o mais provável nesses casos é que débitos ainda maiores possam ocorrer. Dentro de um núcleo familiar deve prevalecer o amor, o respeito, a harmonia e o carinho mas para isso é necessário um esforço de todas as partes. Para se ter um lar edificado na paz é necessário que cada um olhe para dentro de si mesmo, fazendo um exame de consciência e perceba se está colaborando ou dificultando a harmonia familiar, e faça o que estiver ao seu alcance para que a paz e o amor reinem dentro de seu lar.


Na questão nº 110 do livro “O Consolador”, Emmanuel responde o seguinte questionamento: “Qual a melhor escola de preparação das almas reencarnadas, na Terra?” “A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter. Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem. Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça e novo ciclo de progresso espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da Humanidade.” Assim, pode-se concluir que os ensinamentos do Evangelho e do Espiritismo podem auxiliar as pessoas a compreender as provações que enfrentam e principalmente, assumir a sua responsabilidade perante os seres que integram a sua família e perante a sociedade como um todo, visto que todos fazem parte da mesma família universal, já que como filhos de Deus, somos todos irmãos. O amor incondicional um dia será vivenciado por toda a humanidade, mas somente quando aprendermos a amar plenamente, sem limites, despidos do egoísmo e do sentimento de posse, este ainda tão comum em nosso planeta de provas e expiações. O ser humano ainda precisa alcançar uma elevação moral maior a fim de que consiga desenvolver o amor fraternal, e assim amará a todos da mesma forma, assim como Deus nos ama, independentemente dos erros e acertos de cada um.


De acordo com a passagem da Bíblia em 1 Coríntios 13:4-7, "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." Este é o amor que a humanidade precisa aprender a praticar entre si entendendo que cada ato ou gesto praticado é responsável pela construção da paz e da harmonia que edificará o nosso planeta, e assim como ensinou Madre Teresa de Calcutá: “Quer fazer algo para promover a paz mundial? Vá para casa e ame a sua família.”


No momento em que o ser humano compreender que somente assim poderá viver em harmonia na Terra, a paz reinará entre todas as famílias, entre todos os povos e entre todas as nações.


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Referências:

Bíblia Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br>. Acessado em 03 de Outubro de 2021.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Matheus Rodrigues de Carvalho. 43ª reimpressão. Capivari, SP: Editora EME, 2018.

XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 29ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2016.


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