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O tríplice aspecto do Espiritismo




No prólogo de “O Que é o Espiritismo”, Allan Kardec define o Espiritismo como sendo: "Uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo espiritual."

 

Em outra passagem, ainda na obra citada, o Codificador acrescenta: "O Espiritismo é ao mesmo tempo ciência experimental e Doutrina Filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com os espíritos. Como filosofia compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações."

Pode-se observar do pensamento do Codificador, que o Espiritismo reveste-se de três aspectos distintos, mas complementares:

a) Ciência Experimental;

b) Doutrina Filosófica;

c) As consequências morais decorrentes das duas anteriores.

 

Emmanuel, em “O Consolador” diz: "Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado como um triângulo de forças espirituais. A ciência e a filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a religião é o ângulo divino que a liga ao céu."

 

Em outra mensagem mediúnica, o benfeitor acrescenta: "Não será justo em nosso movimento libertador da vida espiritual, prescindir da ciência que estuda, da filosofia que esclarece e da religião que sublima."

 

Aspecto Científico

“O Espiritismo tem por fim demonstrar e estudar a manifestação dos Espíritos, suas faculdades, sua situação feliz ou infeliz, seu futuro; em suma, o conhecimento do Mundo Espiritual.

O Espiritismo tem um aspecto científico porque estuda, à luz da razão e usando critérios científicos, com metodologia específica, os fenômenos mediúnicos, ou melhor, os fatos que colocam os homens em contato com os espíritos, ocorrências estas que nada têm de sobrenatural, porque estão dentro do contexto dos fatos naturais, nada apresentando de milagroso nem de superstições do povo crédulo e ignorante.

Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplica o método experimental. Fatos de ordem nova se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis, conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, partindo dos efeitos às causas, chega à lei que os rege, depois deduz as consequências e busca as aplicações úteis.

O Espiritismo não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não se apresentam como hipótese nem a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; conclui-se pela existência dos Espíritos porque essa existência resultou como evidência da observação dos fatos; e assim os demais princípios. Não foram dos fatos que vieram posteriormente confirmar a teoria, mas foi a teoria que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. Rigorosamente exato, portanto, dizer que o Espiritismo é uma ciência da observação e não o produto da imaginação. As ciências não fizeram progressos sérios senão depois que os seus estudos se basearam no método experimental; mas, acreditava-se que esse método não poderia ser aplicado senão à matéria ao passo que o é igualmente às coisas metafísicas". (Allan Kardec)

 

No aspecto científico, o Espiritismo demonstra a existência da alma e sua imortalidade, principalmente através do intercâmbio mediúnico entre os encarnados e desencarnados.

 

Preocupa-se em estudar a intimidade do fenômeno mediúnico, suas consequências na vida das pessoas, bem como as características do ser espiritual, sua origem, sua natureza e seu destino.

 

O aspecto científico do Espiritismo foi desenvolvido em duas obras de Allan Kardec, O Livro dos Médiuns e A Gênese.

 

 

Aspecto Filosófico

Quando o Homem pergunta, interroga, cogita, quer saber o "como" e o "porquê" das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, nasce a filosofia que mostra o que são as coisas e porque são as coisas.

 

No aspecto filosófico, o Espiritismo vai preocupar-se com os problemas do Homem, suas dúvidas, seus questionamentos, sua condição de ser eterno em busca da Divindade, através de múltiplas existências físicas. Vai examinar os atributos da Divindade, suas relações com o Homem e vai apresentar um código de moral através do qual a criatura se identificará, um dia, com seu Criador.

O aspecto filosófico se encontra enfocado em O Livro dos Espíritos.

 

“O caráter filosófico do Espiritismo está, portanto, no estudo que faz do Homem, sobretudo Espírito, de seus problemas, de sua origem, de sua destinação. Esse estudo leva ao conhecimento do mecanismo das relações dos Homens, que vivem na Terra, com aqueles que já se despediram dela, temporariamente, pela morte, estabelecendo as bases desse permanente relacionamento, e demonstra a existência, inquestionável, de algo que tudo ria e tudo comanda, inteligentemente - Deus.” (Pedro Franco)

 

“O Espiritismo tem um aspecto filosófico porque, a partir dos fenômenos, dá uma interpretação da vida, isto é, responde àquelas perguntas que apresentamos (...) sobre o porquê da vida. De onde você veio e para onde você vai. A razão das desigualdades que observamos entre as criaturas. Trata-se de uma filosofia espiritualista porque admite, repito, com base nos fatos mediúnicos e anímicos, a existência de um princípio espiritual no Universo, além do princípio material. Equivale dizer que o Espiritismo vê no ser humano, não apenas o corpo material, de carne e osso, de vísceras e sangue, de nervos e hormônios, mas também aquilo a que as religiões, há séculos, deram o nome de alma.” (Celso Martins).

 

A Filosofia Espírita é a interpretação dos fenômenos verificados e estudados pela Ciência Espírita. Estes fenômenos revelam ao homem a estrutura do Universo, que é a seguinte, como vemos em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec: Deus, Espírito e Matéria. Uma vez constatada esta realidade, e descoberto o mecanismo pelo qual o Espírito se manifesta através da matéria, cessa o trabalho da ciência, para começar a da filosofia.

 

 

Aspecto Religioso

Ao ser indagado quanto ao aspecto religião do Espiritismo, o médium Francisco Cândido Xavier assim se manifestou [Entrevistas – item 97]: 

"Poderíamos figurar, por exemplo, a Ciência como sendo a verdade, a Religião, como sendo a vida e a Filosofia como sendo a indagação da criatura humana entre a Verdade e a Vida.

Todos os três aspectos são muito importantes, porque a Filosofia estuda sempre, a Ciência descobre sempre, mas a Vida atua sempre. Todos estes aspectos são essenciais, mas a Religião é sempre a mais importante, porque a verdade é uma luz que a todos chegaremos, a indagação é um processo do que todos participamos, mas a vida não deve ser sacrificada nunca e a Religião assegura a vida, assegurando a ordem da vida."

 

Do ponto de vista religioso o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras, sendo, porém, independentemente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as consequências do bem e do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões.

 

No discurso proferido na Sociedade Espírita de Paris, em 1º de novembro de 1868 e publicado na Revista Espírita de dezembro do mesmo ano, Kardec faz as seguintes declarações: “Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças ...

O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é pois, um laço, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito ...

Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a Doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza.”

 

Porque, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública.

 

Como se vê, o Espiritismo não é religião no sentido tradicional da palavra religião.


Concluímos que o Espiritismo não tem culto material exterior nem sacerdócio organizado, como as religiões tradicionais; no entanto, possui um conteúdo moral, ligando os homens entre si e seu criador.

 

Como religião, o Espiritismo preocupa-se com as consequências morais do ensino científico-filosófico, buscando, na ética pregada por Jesus, os elementos que deverão nortear a conduta do Homem.

 

No entanto, não se trata o Espiritismo de uma Religião constituída, tradicional, estruturada através de rituais, sacramentos, dogmas e classes sacerdotais. Mas sim, uma religião no sentido etimológico do termo, como "religarem", ou seja, elemento de ligação da criatura com o Criador. Religião como atitude de vida, como modo de proceder, buscando uma identificação com Deus, não através de atitudes exteriores, artificiais, mecanizadas, mas através de uma vida reta, digna e fraterna.

 

O Espiritismo não se constitui de uma religião a mais, visto que não tem cultos instituídos, nem imagens, nem rituais, nem mitos, nem crendices, nem tão pouco sacerdotes remunerados. Podemos porém, considerá-lo em seu aspecto religioso quando estabelece um laço moral entre os homens, conduzindo-os em direção ao Criador, através da vivência dos ensinamentos morais do Cristo. É no seu aspecto religioso que repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual.

 

O aspecto religioso foi desenvolvido por Kardec nas obras o Evangelho Segundo o Espiritismo e no Céu e Inferno.

 




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