Por: Silvio Mesquita
A cultura humana que se desenvolve desde os primórdios aos quais temos conhecimento por meio da história, traz ao longo dos tempos em sua vasta bagagem com costumes, manifestações, formas de vida e expressões inerentes a significados para os viventes de cada época ou período histórico. E durante todo esse espaço de desenvolvimento cultural, passamos a aprimorar uma necessidade intelectual que é a possibilidade de proferir não só por meio de palavras aquilo que adquirimos como conhecimento, passando de um indivíduo a outro, informações que tomam significados cada vez mais formulados e interpretados por meios e mecanismos como fala, desenho, escrita e outras possíveis formas de linguagem.
Dentre as formas de expressão daquilo que pode nos ser importante, ou que tenha significação de acordo com o contexto de vida de cada um, está a tatuagem, uma forma de desenho na pele que é sempre carregada de polêmica quando posta em conflito com culturas ou cresças contrárias a prática. Segundo a revista Super Interessante, pesquisas revelam que em uma múmia encontrada nos Alpes, foram localizados registros muito semelhantes ao que conhecemos hoje como tatuagem, e o incrível é que este achado é de cerca de 5300 anos. (1)
Uma pergunta que cabe neste contexto, é o porquê de um costume tão antigo, particular e restrito ao corpo de cada indivíduo, que não fere a individualidade e as forma de pensar e agir sequer de pessoas próximas pode ser tema de debates?
Sem a intenção de fazer juízo de valor ou interpretar um ou outro ponto de vista como certo ou errado, mas com objetivo de entender melhor a aversão que as vezes existe ao tema, podemos levar em consideração o fato de que naturalmente, temos por instinto preservar ao nosso redor aquilo que nos é caro, que está de acordo com nossas crenças, com aquilo que por meio da instrução que recebemos se adequa melhor ao nosso meio de convívio confortável, sem que seja necessário esforço para adequação ao que diverge de nossos valores, seja por conta do que represente determinado conteúdo, ou por simples apresso a determinado estereotipo. Porém, como somos cristãos e procuramos seguir o que o Mestre Jesus nos ensinou, devemos respeitar sempre a opinião do próximo seja ela exposta por meio de tatuagens ou outros modos de exposição, pois o Cristo exemplificou o amor da forma mais pura e sublime andando em meio aqueles que por vezes tinham comportamentos que não estavam de acordo com os padrões tidos como corretos, desta forma que relevância teriam traços cutâneos no corpo de outros sendo que além do corpo há um espírito em estado de evolução como todos somos, que mais do que está visível em seu corpo, existe uma mente e um coração cheios de virtudes e também qualidades a serem lapidadas.
Mas, e a Doutrina Espírita o que diz a respeito de tatuagens?
Como espíritas temos sempre como orientação principal as obras básicas de Allan Kardec, que por sua vez, provavelmente por serem escritas em uma época em que este costume não se apresentara ainda popularizado, não trazem nada de específico sobre, porem algumas curiosidades atreladas naturalmente ao tema podem ter, não respostas diretas, mas outras que nos fazem refletir, afinal o Espiritismo detém caráter Religioso, Científico e também Filosófico. Exemplo de questionamento um tanto curioso seria sobre as tatuagens afetarem ou não o corpo fluídico ou espiritual chamado “períspirito”, remanescendo após a morte do corpo físico.
A questão número 150 B de “O Livro dos Espírito” nos permite refletir:
- A alma não leva nada deste mundo?
- Nada mais que a lembrança e a vontade de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou de amargor, segundo o emprego que fez na vida. Quanto mais pura ela for, mais compreende a futilidade do que deixou sobre a terra. (2)
Sendo a tatuagem traçada no corpo na vida física, ou seja, não sendo algo trazido desde o ventre da mãe como um sinal de nascença, nos é permitido interpretar que as tatuagens não nos acompanham na passagem ao mundo espiritual, porem a resposta da mesma questão diz que a alma leva a lembrança segundo o emprego feito na vida, assim, por outro lado, nada nos proíbe de pensar que alguém que tenha tatuado em seu meio físico coisas as quais por meio destas se tenha tido por objetivo agredir de algum modo a si próprio ou a outros causando possíveis danos ou apegos de ordem psíquicas caracterizando como nos é dito na resposta, como lembranças sejam elas de doçura ou amargor para o indivíduo em questão, possa levar consigo as tatuagens no corpo perispiritual, não como algo vindo propriamente dito do corpo, mas sim na forma de uma fixação mental, caracterizando grande apego. O primeiro parágrafo do título “Retrato do Corpo Mental” do livro Evolução em Dois Mundos psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira corrobora com nossa reflexão: “Para definirmos, de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação” (3).
Vale destacar no trecho as palavras que dizem claramente que “o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental”, fornecendo maior subsídio para nossa linha de pensamento.
Contudo, vale sempre uma busca abrangente de informações sobre assuntos controversos como este, pois existem sempre bons argumentos de ambos os lados para defender ou ser contrário a prática, que segundo podemos levantar, ganhou grande quantidade de adeptos nos últimos anos e vem ocupando espaço também em reconstrução de órgãos deformados por doenças, cirurgias ou cicatrizes, servindo como mecanismo de reconstrução de alta estima de homens e mulheres que tenham trazido consigo débitos cármicos como deformações provenientes de variadas circunstâncias.
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Referências:
1 – https://www.google.com/amp/s/super.abril.com.br/mundo-estranho/como-surgiu-a-tatuagem/amp (acesso em 05/03/20)
2 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 6a Edição. São Paulo: Mundo Maior Editora, 2012.
3 - XAVIER, Francisco Candido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. Rio de Janeiro. FEB. 1958.FGHJKLÇ
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