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Todo suicida vai para o vale dos suicidas?


Por: Priscila Gonçalves


“De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos.”

2 Coríntios 4:8-9 (1)


O suicídio é algo que vem desde os tempos mais remotos da humanidade. Uns consideram como um grande ato de coragem, outros, como pura covardia em sucumbir às dores, aflições, tristezas, cansaço, exaustão, e por não conseguir lidar com estes aspectos difíceis que atingem toda e qualquer pessoa, acabam por dar cabo da própria vida.


Psicologicamente falando, o suicídio é um ato completamente contrário ao nosso instinto natural de sobrevivência. Em entrevista a um podcast (2) a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, médica psiquiatra, dissertou acerca do assunto, e explicou que, é um ato antinatural, pois nosso cérebro é programado para viver, e não, morrer, e que, algo tão grave pode abater o indivíduo que causa uma cegueira no instinto de sobrevivência, levando então ao suicídio.


Porém, o suicídio nunca é uma causa, mas sempre uma consequência, um ápice de várias questões envolvidas, complexas em demasia e individuais.


Existem pessoas que passam por misérias e misérias ao longo da vida, e não acabam consigo mesmas. Outras, não suportam as dores, a depressão, ansiedade, bem como outros possíveis distúrbios, e acabam por sucumbir ao ato.


No entanto, não cabe a nós, de nenhuma forma que seja, julgar quais motivos levaram alguém a tentar sem sucesso, ou tentar e conseguir. Não podemos apontar nossos ávidos dedos e sentenciar qualquer indivíduo que seja. Aqueles que tentaram e não conseguiram, precisam ser acolhidos com muito amor.


Oferecer algum acompanhamento profissional, espiritual se for o desejo da pessoa, e olhar para aquele ponto da vida em que a pessoa decidiu dar cabo de sua vida, seria a melhor saída para os seus problemas. Aqueles que tentaram e conseguiram, o que podemos fazer por eles, é interceder através de preces, para que este espírito então desencarnado, encontre a ajuda que precisa.


E depois do ato consumado, para onde então esses espíritos vão?


Em diversas obras espíritas, é descrito um lugar chamado Vale dos Suicidas, e em um texto escrito pelo Dr. Natalício Cardoso da Silva, delegado regional da Polícia Civil de Goiás, a narrativa de um espírito de nome Camilo, que narra ter vivenciado em um local denominado o vale dos suicidas.


E ali me vi aprisionado, em região do mundo invisível, de panorama desolador, composto por sombras e vales profundos, gargantas tortuosas e cavernas sinistras. Dentro destas cavernas, os Espíritos que foram homens uivavam qual malta de demônios enfurecidos, como dementes, devido ao grande sofrimento que os martirizava(...) Nunca o ar fresco da madrugada! Nem uma faixa azul do céu, para ser contemplada! Nem mesmo a claridade do sol! Nem bandos de andorinhas em revoadas, nem as cintilações das estrelas! Nunca, a primavera! Não havia ali, nem haverá jamais, nem paz, nem consolo, nem esperança: tudo é marcado pela desgraça, miséria, assombro, desespero, horror! Era a dor que nada consola, a desgraça que nada ameniza, a tragédia sem tranquilidade, sem poder dormir, sem sonho, sem esperança! Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas!(...) Quem estaciona ali, como eu estacionei, são grandes personalidades do crime. É a escoria do mundo espiritual - apenas grupos de suicidas que chegam todos os dias. São almas que vem quase sempre da Espanha, Brasil, Portugal e colônias portuguesas da África, infelizes necessitados do auxílio da prece. São os levianos, irresponsáveis que, fartos da vida, aventuram-se ao desconhecido, à procura de “esquecimento e alivio”, através do suicídio!


Não sei como são os trabalhos de correção para suicidas nos núcleos destinados ao mesmo fim. Sei apenas que fiz parte da sinistra falange aprisionada nesse local pavoroso, cuja lembrança, até hoje, faz-me sentir repugnância. (3)


Neste texto, vemos que um espírito que quando encarnado sucumbiu pelo suicídio, provou das piores misérias, dores e aflições junto a outros espíritos na mesma condição, e que, aquele lugar era insuportável em demasia, capaz de levar à loucura qualquer indivíduo, e, um local tão assombroso, que a visão e imaginação humanas, não conseguiriam entender.


Podemos então, dizer que todos os suicidas vão para um local como este relatado?


A resposta é: depende. Sabemos que cada indivíduo é único, e cada um de nós tem seus processos, suas bagagens, suas necessidades, entendimento e moral. Reduzir todos aqueles que suicidam a um único tipo de pessoa, seria cruel, principalmente para aqueles que a título de exemplo, podem ter passado por algum tipo de processo obsessivo, e, talvez por não terem conhecimento sobre, e terem dado abertura a espíritos desta natureza, tenham se deixado levar pelas influências. Vejamos. "Tudo o que existe no universo é feito de energia, inclusive nós encarnados e também os desencarnados. Tendo isso em vista, é certo que há a ocorrência da lei de ação e reação para tudo o que emitimos em forma de energia ao nosso redor. Quando nos sintonizamos e nos mantemos em baixas vibrações de pensamentos que, vez ou outra, ou sempre, se materializam em más ações, estamos impreterivelmente atraindo para nós energias que se coadunem com essa emissão, ou seja, estamos atraindo más energias. É sabido por todos nós que há espíritos em grau de evolução distintas e a partir do momento em que entendemos que eles agem em nossas vidas de forma mais constante do que imaginamos, compreendemos que quando nossas vibrações se encontram baixas, estamos nos sintonizando e atraindo espíritos mais inferiores." (4)


Vemos então, neste trecho que, o processo de obsessão pode contribuir para que o indivíduo, quando não possuindo conhecimento e entendimento do que o está cercando e dando vazão a estes sentimentos e emoções ruins, pode ser levado a cometer tal ato. O que mais importa, em todos os sentidos é que, tanto a pessoa obsidiada, quanto o obsessor, precisam ser acolhidos e atendidos de maneira a terem suas dores e aflições entendidas e tratadas da maneira certa, evitando assim que, tanto o obsidiado quanto o obsessor pratiquem atos que atentem contra as leis de Deus.


O Vale dos Suicidas, no entanto, pode ser um local onde abriga milhões de espíritos que optaram pelo suicídio, e que, em suas vidas pregressas, possam ter cometido contra outrem atos de tamanha perversidade e crueldade, e que, não querendo se desfazer dos sentimentos de ódio e ira, se colocam ainda mais em posição de sofrimento. Quando presenciamos em obras espíritas casos de espíritos sofredores que foram resgatados e levados até um Hospital Espiritual e ali atendidos, foram porque clamaram por socorro e ajuda divina. Até mesmo os espíritos de Luz não podem intervir compulsoriamente em um local onde estes espíritos se encontram, pois estariam intervindo no livre-arbítrio daquele espírito, e, mesmo espíritos perversos, mas arrependidos, podem clamar por socorro e serão atendidos.


O que vale, é sempre a Lei do Amor, e este Amor, que Deus nutre profundamente por cada um de nós, nos dando sempre sua misericórdia, é o que podemos contar nos momentos de mais profundo desespero e dor.


Você, leitor, que de alguma forma sente-se desalentado e sem esperanças de viver, procure ajuda profissional caso possa, e você pode contar com o auxílio gratuito do CVV (Centro de Valorização da Vida), no número 188. A ligação é gratuita para todo o território brasileiro, e sua chamada será anônima, não podendo ser identificado, a menos que seja seu desejo. Nesta central você será atendido por voluntários treinados para auxilio emocional.


E, se você conhece alguém que precisa de ajuda neste sentido, não deixe que o pré-julgamento faça morada em ti. Nossa obrigação moral, é a prática da caridade, e ela consiste também em auxiliar nossos irmãos sofredores, sem preconceitos quanto suas dores e seus sofrimentos.


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Referências:

1- https://www.bibliaon.com/suicidio/ - Acesso em 14/09/2022

2- Entrevista disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6ItbEZyrou8 – Acesso em 14/09/2022

3- Disponível em: https://sindepol.com.br/artigos/suicidio-iii-o-vale-dos-suicidas/ - Acesso em 15/09/2022

4- CAMPOS, Rafaela Paes de. Processos Obsessivos. 2021.


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