Por: Guilherme Carvalho
“Buscai primeiro o Reino de Deus, e tudo mais vos será acrescentado”(DIAS, Mateus 6:33, p. 57).
Enquanto Espíritos imperfeitos, inconscientemente, buscamos algo que se nos acrescente o âmago, de forma cristalina o vemos na atualidade, embora distorcida, as criaturas que anseiam por sua humanidade, porém, tentam encontrá-la em posses dilacerantes, onde aprisionam-se cada vez mais à matéria e esquecem-se de que retornaremos todos para a Pátria Espiritual.
Nas primeiras manifestações do Homem com a Natureza, conseguimos observar uma necessidade de aliar-se a algo externo, um Ser Superior, atribuindo a isto, mediante o nível intelectual de cada sociedade e cultura, a manifestação pura e intrínseca do que entendemos hoje como Deus. Perpassamos neste caminho pela lilolatria, fitolatria, zoolatria, mitologias, politeísmo e monoteísmo. Assim assevera o intemerato contribuidor da Doutrina Espírita, Léon Denis.
Com o avanço intelectual, a perpetração dos instintos primitivos ainda latentes, aumenta paulatinamente a contribuição negativa do Ser ao lar que se lhe faz Hospital-Escola, ao mesmo tempo que se aproxima a hora de despertar para a mudança imperiosa do progresso. Tendo a predisposição para ser luz, chamados Filhos de Deus, como ensina o Mestre Jesus: “Vós sois a luz do mundo” (DIAS, Mateus 5:14, p. 50), só nos situamos no patamar analisado por vontade própria, buscamos o Reino de Deus, por meio da verdade, que em meio a tantas personalidades e mentalidades, materializa-se de maneiras diferentes, mesmo que seus adeptos possuam e emanem pensamentos similares.
A verdade que o homem se crê possuidor nada mais é que sua razão, que sendo influenciada, vaga por onde se permite. Exorta o Espírito Emmanuel em O Evangelho Segundo o Espiritismo que, o egoísmo é a chaga da Humanidade. Por meio dele é que se construiu nosso modelo organizacional de sociedade, onde há dominadores e dominados, quando todos deveríamos ser colaboradores mútuos.
Nos fatos datados no que conhecemos em nossa história, aquele com mais posses, era o possuidor da verdade, e com isso, ordenava no núcleo social em que estava inserido. A verdade acompanhava o seu íntimo, derivando-se invariavelmente, por conta das vicissitudes do Ser, na morte do Cristo, em guerras, assassínios, entre tantas outras formas sanguinolentas de evadir-se da Verdade Maior, aquela que impera na consciência, o Amor.
Avançamos no tempo, os templos religiosos aumentam, mas continuam, sobretudo, homens materialistas conduzindo as massas, salvo aqueles que souberam utilizar-se das Divinas Oportunidades e fizeram-se mártires, porque quem não compactuava com a ordem vigente, era exilado, torturado, morto. Então, a verdade que é a nossa razão, toma outra veste, compreende-se agora que a razão, ao tornar-se verdade, tornou-se religião. E através dela, em nome de um Ser Superior, extraterreno, intensifica-se a opressão exercida entre irmãos, de nações, de estados, de cidades, de casas.
Nos momentos atuais em que regurgita a Terra, todas as dores acumuladas por milênios e prepara-se para ascender mais uma etapa evolutiva, vemos de maneira exposta, o egoísmo agindo em uma de suas faces, a intolerância religiosa. Por crer-me detentor da verdade absoluta, não deixo que manifeste o meu companheiro de caminhada, o que compreende sobre, como aquilo se aplica em sua vida, qual a sua realidade. Não professo o que moralmente não sigo e igualmente não permito que o outro se expresse.
Allan Kardec perguntando acerca do Bem e do Mal é respondido segundo as Vozes Superiores, em O Livro dos Espíritos na questão 629: “A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a Lei de Deus” (KARDEC, 2023, p. 244).
Como nada é absolutamente bom, nem mau, na nossa perspectiva terrena, as religiões nascem do impulso bondoso das criaturas que já não se comprazem tanto nas sendas inferiores em que se acham. A moral é o ponto alto de todas as religiões que buscam os céus, esperam o juízo final, o julgamento dos deuses, enfim, de tudo quanto tenha contas a prestar com outrem.
A Ciência é criada pelo abuso excessivo das verdades que, agora são as religiões, não se concebe mais apenas ouvir e obedecer, obteve o ser a necessidade do pensar, do raciocinar por si mesmo. Rompendo-se com as religiões, criando atritos, assentando-se na esteira do tempo, a Ciência veio para acrescentar no Homem, e educá-lo, quanto as coisas que desconhecia e que eram vontades do Divino.
Milagres feitos pelos Emissários Celestes, não são mais que manipulação das leis físicas desconhecidas pelo povo de sua época. A Terra não é mais o centro do Universo, há outros planetas, não povoamos o Universo sós, entre tantas outras verdades, despidas da religião que a Ciência apresenta.
A verdade, divide-se assim como multiplica-se, verdades científicas e verdades religiosas, coabitam, na mesma sociedade, ambos tratados como opositores um do outro pelos seus seguidores. É chegado o tempo, e advém o Espiritismo, formado por uma trina, Ciência, Filosofia, Religião, pegando o arcabouço mental que, possuem as criaturas, e mostrando que é possível aliá-las de modo harmônico, onde a Têmis Divina, é a nossa consciência, onde urge trabalharmos a moral, e que o progresso é fruto de nossa dedicação.
Como vimos, não nos importa qual caminho escolhido, sendo que todos resultarão no mesmo esplendor de graças, é a religião um meio para que a criatura não permaneça alheia ao que não enxerga como os olhos carnais. O corpo somático nem sempre consegue captar o que ocorre ao seu redor, mas, não quer dizer que nada exista.
Não tem o Espiritismo a pretensão de ocupar o cargo de verdade absoluta, antes de tudo propondo-se a reviver o Cristianismo Primitivo, vem iluminar consciências, estimulando a prosseguir sempre, pois, tudo passa, demonstrando de diversas maneiras, que é o Amor o Divino Lenitivo para toda e qualquer amargura na Terra, explicando que há injustiça, porém, sem injustiçados.
E rememorando os ensinamentos de Jesus de Nazaré, Homem que dividiu o tempo em antes e depois de seu nascimento, incitou a paz, pregou o perdão, dividiu o amor assim como o pão. Ele falava como todo mundo falava, mas, ninguém falava como Ele falava, e então João, o Evangelista, reaviva nas horas modernas de aflição: “E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (DIAS, João 8:32, p. 423).
Não nos aprisionemos em ser possuidores da verdade como já o fomos, sejamos sem medo, seguidores da Verdade, seja qual for a sua vertente, educando-nos através da moral, emularemos os que tomamos como Mestres, Guias, Irmãos, abrangendo no abraço reconfortante aqueles que padecem de frio, sendo fonte alimentícia aos que têm fome, e sendo manancial, esparzindo as claridades luminíferas do porvir, criando assim, uma só Verdade, uma só Vida, passado, presente e futuro, como a semente que jungida ao solo fértil, foi fecundada, cresceu com as intempéries das tempestades e os raios solares claudicantes, porém ao fim, transforma-se no que se é em minúscula, árvore frondosa e frutífera, servindo sombra, alimento e limpado os ares, à Luz do Amor, tudo conseguiremos purificar.
Verdade, por fim, passada a razão, a religião, a Ciência, desdobra-se no Amor, a fim de que se constitua um Reino que começamos a buscar e que acharemos. O esforço da disciplina, nos trará a felicidade ambicionada, despindo-nos da ignorância imantada séculos a fio em nosso íntimo, abrindo nossos olhos para ver e nossos ouvidos para ouvir, não mais perpetuando os costumes antigos que nos levaram a quedas bruscas e sim alçando voo para a Eternidade, dirigindo-nos para onde nosso pensamento se debruçar. Toma o dia de hoje, para serdes divulgador da tua verdade, que acreditando fazer o melhor possível, inscreva dentro da tua alma, o Amor.
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Referências:
1- DIAS, Haroldo Dutra. O Novo Testamento. Brasília/DF: FEB - Federação Espírita Brasileira. 2021.
2- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2023.
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