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O Espiritismo no Brasil




Por: Rafaela Paes


Das reuniões e mesas girantes da França, o Espiritismo atravessou o oceano e chegou ao Brasil em 17 de setembro de 1865, oito anos após o seu ‘surgimento’ em terras francesas. Nesta data foi realizada a primeira sessão da Doutrina Espírita em solo tupiniquim, tendo sido liderada por Luís Olímpio Teles de Menezes e, no mesmo ano foi fundado o primeiro Centro Espírita brasileiro (CORDEIRO, 2018, on-line).

Não tardou para que a Doutrina dos Espíritos se tornasse uma religião tipicamente brasileira e passasse a ser divulgada por grandes intelectuais das grandes cidades, até popularizar-se e chegar às massas por intermédio do saudoso, e que dispensa maiores comentário, Chico Xavier (CORDEIRO, 2018, on-line).


Foi em 1877 que foram fundadas as primeiras associações, quais sejam a Congregação Anjo Ismael, o Grupo Espírita Caridade e o Grupo Espírita Fraternidade. Como marco, em 1884, fundou-se a Federação Espírita Brasileira (CORDEIRO, 2018, on-line).


Desde então, o Brasil tornou-se a maior nação Espírita do mundo. De acordo com dados do senso realizado no ano de 2010, desde 2000 houve um aumento de 65% no número daqueles que se declaram adeptos da Doutrina, o que significa em número de 2,8 milhões de pessoas (BERNARDO, 2019, on-line).


Esse curioso fato, e dizemos curioso eis que o Espiritismo tem seu berço na França, se deve ao fato de aqui ter ele tomado contornos de religião. De acordo com Célia Arribas, doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo, “se na terra natal de Kardec, o espiritismo tinha caráter majoritariamente científico ou filosófico; no Brasil ganhou status de religião” (BERNARDO, 2019, on-line).


Acerca do perfil do Espírita no Brasil, dados ainda do Censo 2010 mostram que o Espírita é o grupo com adeptos com a idade mais elevada dentre as outras religiões, sendo uma média de 37 anos. Ademais, a maioria de seus adeptos se declarou como brancos, somando 68,7% dos entrevistados. 98,6% dos Espíritas são alfabetizados e 31,5% possuem nível superior completo e são o grupo religioso com maior rendimento per capita (FRANÇA, 2021, on-line).


De tais informações é possível coletar algumas conclusões que sirvam de reflexão aos Espíritas e aqueles, principalmente, que estão de alguma forma, à frente de sua divulgação.


Muito embora saibamos que há um déficit de pessoas que se declaram Espíritas, eis que são muitos os seus simpatizantes, a porcentagem ainda é bastante baixa diante da forma do brasileiro vivenciar a sua religiosidade. E por qual motivo será que esse fato é uma realidade?


Basta que olhemos para os dados do Censo 2010 para perceber que o Espiritismo no Brasil é uma ‘religião’ elitizada. Os altos índices de graduados claramente não desabonam em nada os Espíritas, mas a forma de ensinar, de levar a Doutrina às pessoas, pode ser um entrave. Aqueles com escolaridade menor têm dificuldade de compreender o que se diz em palestras e cursos ministrados. Acaba por se tornar uma discussão filosófica aprofundada (o que deve ocorrer), mas com palavras difíceis de serem compreendidas e, por isso, muitos deixam de frequentar os Centros por não conseguir acompanhar.


Essa observação serve inclusive para editoras espíritas, eis que muitos leitores reclamam da dificuldade de compreender a linguagem contida nos livros. O uso correto da língua portuguesa passa bastante distante da erudição absoluta, sendo desnecessário tornar a leitura quase um ‘juridiquês’, este bastante comentado quando se fala sobre não entender. Neste ponto, a Editora Letra Espírita, sai na frente ao cuidar desse detalhe, passando seus livros por revisões sucessivas que tornem a leitura fluida e simples para a compreensão de todos os que desejam acesso à Doutrina.


Também há que se falar que muitos dos que desejam iniciar nas sendas espíritas possuem receio de ir a um Centro, principalmente porque não há um acolhimento fraternal que vá além do “você precisa assistir as palestras e estudar”. Muitos estão ali para conhecer eis que são simpatizantes, mas essa objetividade muitas vezes afasta as pessoas da Casa Espírita.


Nesse sentido, a internet sai na frente, auxiliando no trabalho de popularização do Espiritismo, inclusive no que diz respeito a simplificação de sua linguagem, eis que muitos dos que estão à frente desses trabalhos são mais jovens, como por exemplo a equipe de colunistas e comunicadores voluntários do Letra Espírita. Esse movimento virtual se intensificou com o advento da pandemia de Covid-19, e trouxe uma renovação para o movimento espírita.


Inclusive, a questão dos jovens também precisa ser repensada pelas Casas Espíritas que julgam a juventude como imatura para opinar ou assumir papéis dentro dos trabalhos. Esquecem-se que a idade está no Espírito e em suas bagagens, e não no corpo físico. Isso afasta os jovens dos Centros e essa informação é facilmente verificada indo até um deles.


O Espiritismo se tornou popular no Brasil por encaixar-se nos moldes de religiosidade do brasileiro, mas cresce muito menos do que poderia por motivos como os expostos. Há que haver uma democratização maior do conhecimento. Há que haver um acolhimento individual antes da imposição da necessidade veemente de estudo e dedicação.... Há que se permitir que os jovens adentrem as Casas Espíritas com suas ideias e renovações necessárias. Sim, pois toda religião tradicional vem sofrendo com perda de fiéis.


Não são críticas, são observações do cotidiano que servem de condão para reflexão profunda, análise e principalmente, de norte para que a Doutrina siga sendo divulgada, o que é a maior caridade que se pode fazer por ela.


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Referências:

BERNARDO, André. Como Allan Kardec popularizou o espiritismo no Brasil, o maior país católico do mundo. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47751865. Acesso em: 30/11/2021.

CORDEIRO, Tiago. Por que o Brasil se tornou maior país espírita do mundo? 2018. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/espiritismo-por-que-o-brasil.phtml. Acesso em: 29/11/2021.

FRANÇA Nathan Ferreira. Espiritismo Kardecista: Apontamento sobre a religião que mais cresce no Brasil. 2021. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/ciencia-da-religiao/cresce-no-brasil. Acesso em: 30/11/2021.

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