Por que a caridade é tão propagada no Espiritismo?
- Letra Espírita

- 26 de out.
- 4 min de leitura

Por: Nandra Laura
A caridade não é exclusiva dos Espíritas. Os elogios acontecem, porque há trabalhos de relevância que acabam se destacando e, de fato, é esse o esperado. Todavia, o exercício da caridade na seara espírita existe porque é a herança que o Mestre Jesus nos legou para que caminhássemos rumo ao progresso na vida moral.
A caridade não se resume a saciar a fome pelo pão ou a sede pela água. Evidente que há irmãos necessitados da parte material e, se pudermos contribuir, que alegria! Porque quem doa também recebe a Caridade Divina, já que segundo a Bíblia, no Evangelho de Mateus: “O Rei responderá: 'Digo a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram'” (MATEUS, 25:40).
A explanação sobre a caridade está em O Evangelho Segundo Espiritismo no capítulo XIII, “Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita”. Nessa obra, Kardec aponta os dois tipos de caridade: material e moral.
A caridade material, como o próprio nome diz, está em proporcionar aqueles desafortunados o que lhes falta, seja dinheiro, alimento ou outras necessidades. O Evangelho Segundo Espiritismo pede aos mais ricos que auxiliem os mais pobres. Podemos entender que, na verdade, aquele que muito tem pode contribuir para o mais miserável.
Conforme a leitura é feita, sente-se nas entrelinhas que à época do texto, os mais abastados tinham uma resistência em ajudar ao próximo; tanto é que se faz necessário explicar que Deus se alegra com isso e de como, no Plano Espiritual, é possível uma linda recepção desses irmãos que auxiliaram os outros de forma material.
Já a caridade moral, segundo o Espírito Irmã Rosália, cuja mensagem está em O Evangelho Segundo o Espiritismo, é um tipo que todos podem praticar, já que não tem custo; todavia, é a mais difícil de ser exercida.
A caridade moral baseia-se em alguns pontos como, por exemplo, suportar uns aos outros, saber calar-se enquanto o outro que é mais tolo fala. Ser surdo quando ouvir uma palavra desagradável, ignorar o sorriso de desdém se formos recepcionados por irmãos que se julgam superiores a nós, bem como não dar atenção ao mau proceder do outro.
Nota-se que a caridade é feita de sutilezas. O Evangelho Segundo o Espiritismo ainda aborda outras maneiras de sermos caridosos. É possível fazer caridade por meio de pensamentos, por palavras e por ações.
Graças a esse órgão do corpo humano chamado cérebro, podemos produzir os nossos pensamentos, que são molas propulsoras através das preces e/ou orações que podemos dedicar aos irmãos sejam encarnados ou não. “Uma prece feita de coração os alivia” (KARDEC, 2023, p. 168).
Somos titulares de nossas palavras e quando fazemos bom uso delas, podemos ofertar aos irmãos de caminhada todos os dias alguns bons conselhos. Aos que estão aflitos, em desespero, desanimados dos planos do Senhor, citar o Evangelho como remédio e esperança, também é caridade.
Sendo assim, por que necessitamos propagar a caridade? Porque assim como Jesus, é o caminho e a verdade. Viemos de tantas existências em que não estivemos só no papel de credores, mas também de devedores.
Ao longo da história, vivemos alternadamente como outros povos, outro gênero sexual e em situações em que não optamos pela paz. Deveras, sentimo-nos muito injustiçados, mas olvidamos das nossas injustiças para com os outros, seja de maneira familiar ou coletiva.
É preciso levar em consideração que a caridade é uma maneira de reparar nossas faltas.
No livro Para Vencer a Dor, pelo Espírito Henrique, psicografado por Blanca Eleonora de Camargo, a personagem Lígia, após ter feito escolhas equivocadas para crescer a qualquer preço na vida, acaba por não conseguir fugir das leis do homem.
A personagem desviou recursos da empresa e foi descoberta. Contudo, em meio a esse furacão de acontecimentos, ela conhece Marina, uma jovem Espírita que lhe apresenta uma alternativa de uma vida redimida, apesar dessas suas últimas falhas.
Depois de cumprir a pena em regime fechado, ter passado para o semiaberto, até o momento de seu retorno à liberdade e convívio social, foi pela caridade que a personagem foi se reformando moralmente.
Apesar de estar desprovida financeiramente e com um emprego bem mais modesto, Lígia praticava a caridade moral fazendo o Evangelho no Lar semanalmente com seus vizinhos e participando das tarefas sociais e espirituais da Casa Espírita que a acolheu naquele momento.
A caridade é a misericórdia e amor de Deus por nós diante de nossas faltas. Às vezes pensamos que caridade se resume a esmola, contudo, nada mais é do que amor a Deus sendo exercido com o próximo por meio de nossas atitudes, já que se eu amo meu irmão ou um estranho, desse modo, manifesto o amor de Deus nele por meio de minhas ações caritativas.
Seria muita pretensão tomar posse da premissa de que a prática da caridade é exclusiva dos Espíritas. Ainda que seja um dos motes da Doutrina Espírita, juntamente com o amor, não é uma propriedade.
Se em algum momento escutar isso de um Espírita como uma afirmativa, desconfie. Lembre-se que a caridade pode ser exercida em qualquer lugar, para qualquer pessoa e em qualquer tempo – independentemente de templos.
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Referências:
1- BÍBLIA. Mateus 25:40. Disponível em: https://www.bibliaon.com/mateus_25/. Acesso em: 05 de junho de 2025.
2- CAMARGO, Blanca Eleonora de. Para Vencer a dor, pelo Espírito Henrique. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita, 2025.
3- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro]. Campos dos Goytacazes/RJ: Editora Letra Espírita. 2023.




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